Seis etapas e cerca de 120 km's depois... só dá vontade de voltar a repetir, já amanhã.
E depois perguntamo-nos: “Mas porque não o haveríamos de fazer?” Não deixa de ser uma caminhada, uma verdadeira viagem e, tal como tudo de bom na vida, há que sofrer um pouco para alcançar o seu fim (que só nos leva a outros princípios). Por isso aqui está o nosso testemunho, porque sabemos que em muitos aí desse lado, há uma voz que chama para fazer o caminho, daí que achamos por bem partilhar a nossa experiência para que, quando chegue o momento de pegarem nas botas e na mochila, se sintam preparados o melhor possível e somente “preocupados” em desfrutar do caminho. Mas não vamos ser ingénuos, caminhar é como viver: há coisas boas, coisas menos boas e, por mais que nos preparemos, há sempre algo que pode acontecer e isso é inevitável. Por isso mesmo, fazemos questão sempre de mostrar as coisas como elas são e esta viagem não seria exceção. Neste caso decidimos separar as águas e por isso, enquanto no vídeo vamos documentando as etapas propriamente ditas, neste espaço falamos mais sobre o outro lado da caminhada, seja a preparação, os custos associados, etc. Mas antes de iniciarmos esta viagem, que tal falarmos primeiro sobre…
Há já muito tempo que havia a vontade, eramos (e ainda somos) daquelas pessoas que sempre que viam um documentário, filme ou até mesmo uma breve peça de noticiário sobre o caminho, sentia um arrepio a percorrer o corpo, o coração bater mais forte e uma lágrima quase a escapar pelo canto do olho. Avançamos finalmente e, ainda não tínhamos terminado, já havíamos prometido a nós próprios que mais haveríamos de fazer, mas o tempo foi passando e por motivos de força maior, fomos adiando… até este ano. Depois de alguns avanços e muitos recuos, acabámos por decidir fazer o único caminho que não termina, mas sim começa em Santiago e termina em Fisterra, ao qual quisemos adicionar a passagem por Muxía (para quê escolher entre um dos locais, se podemos passar por ambos?). E lá partimos, e lá chegamos e cá estamos para contar a nossa história. Mas atenção, como já referimos, sabemos que há muitos de vós que também gostariam de fazer um dos Caminhos de Santiago e, quando nos dizem isso, o primeiro aviso que fazemos é: “O mais certo é quererem vir a fazer mais”. E agora que a nossa escusa de responsabilidades está feita, podemos avançar.
As viagens de ida e regresso, o alojamento, o que levar (e não levar) na mochila… e muito mais têm de ser pensado previamente. Isto claro, para aqueles que, como nós, preferem lidar com as coisas mais “chatas” antes para depois desfrutar ao máximo do caminho. Roupa, mochila, comida, dormida, albergue público, privado, viagem de ida, regresso, botas, etapas: tanta coisa em que pensar e muitas dependem umas das outras: que reservar primeiro? Reservar ou não o albergue? Quantas etapas? Quais? Bem, não acreditámos que haja uma fórmula perfeita, a não ser que paguem bastante a alguém que faça todo este trabalho por vós e assim nem se atrevam a “chorar” o dinheiro gasto. Mas podemos dizer o que temos vindo a fazer e a melhorar. Antes de tudo, nós escolhemos o caminho que queremos fazer e para isso, temos em conta o número de etapas e dessa forma o número de dias necessários. Aconselhámos a dedicarem bastante tempo a esta parte, pois é quando há muitas decisões e alterações, avanços e recuos. Se possível, tenham um ou dois dias “extra” disponíveis, para o caso de alguma eventualidade. Importante é também ser realista: se as etapas têm mais de 30 quilómetros, por muita vontade que haja, sentimo-nos capazes de percorrer essa distância, dias seguidos? Fica ao critério de cada um. Costumamos então começar por fazer várias pesquisas sobre o caminho a fazer, se tem ou não muitos albergues, se ficam perto ou afastados do caminho, etc. De uma forma geral, existe sempre um maior número de albergues em determinadas áreas, pelo que nem é sempre fácil “fugir” a essas possibilidades, mas é possível. No caso deste trajeto, rapidamente percebemos que é habitual ser feito em 4 dias, mas como isso implicava fazer quase todos os dias mais de 30km’s, decidimos dividir em 5 (e posteriormente em 6, como vamos explicar mais à frente). Claro que isso nos obrigou a perder mais tempo de pesquisa na parte do alojamento, mas nada que não se resolvesse. Após estar escolhido o percurso e as datas, avançamos para as viagens de ida e regresso. Decidimos comprar primeiro os bilhetes de comboio de ida e volta Porto – Santiago, assim como o de autocarro de Fisterra – Santiago. No que ao comboio diz respeito, a CP dispõe de um preço promocional de 6.75€ no Celta, o comboio que faz a ligação entre Porto e Vigo mas atenção, segundo o site deles, embora a promoção esteja válida até dezembro de 2024, o número de lugares disponibilizados a preços promocionais é limitado, daí ser aconselhável comprar com o máximo de antecedência. A outra parte da viagem entre Vigo e Santiago de Compostela, reservamos diretamente no site da Renfe, a empresa dos comboios espanhola. Depois do transporte, era a vez do alojamento. Como já referimos, durante a fase do planeamento, às vezes temos de “voltar atrás” e reprogramar as coisas e no nosso caso isso aconteceu devido ao alojamento. Inicialmente tínhamos previsto fazer 5 etapas, mas quando começamos a escolher os albergues, em Santiago estava tudo esgotado, ou melhor, não existiam espaços disponíveis dentro do nosso orçamento. Fomos então “percorrendo” a lista de possíveis locais ao longo do caminho e acabámos por começar a caminhar logo no dia em que chegámos a Santiago e fazer, digamos que meia etapa. Como desde o início já tínhamos ali um dia “de reserva”, acabou por não nos causar grandes transtornos. Nós preferimos ficar em albergues privados, pelo simples motivo de que é possível reservar, ao contrário dos públicos em que as vagas vão sendo preenchidas por ordem de chegada. Para além disso, ao contrário da maioria dos albergues públicos, os privados dispõem, regra geral, de um local onde é possível lavar/secar a roupa (mediante o pagamento de um valor extra, claro). Curiosamente, acabamos mesmo por pernoitar num albergue público numa das etapas e ficamos muito surpreendidos, como podem ver no vídeo, se bem que não tínhamos, digamos, outra opção, visto que em Dumbría era mesmo o único albergue disponível. Para podermos ficar nos albergues públicos é obrigatório apresentar a Credencial de Peregrino. No caso desta etapa, nós fomos buscar a nossa à Oficina do Peregrino em Santiago e não teve qualquer custo. Aconselhámos a perguntar na entrada ao segurança onde a levantar, porque eles têm diferentes seções mediante a origem dos peregrinos e, no nosso caso, foi super-rápido porque não havia mais ninguém. A escolha dos albergues, bem, basicamente vamos procurando dos que estão mais perto do caminho para o mais afastado e lendo as “reviews” de outros peregrinos, seja no google, seja numa aplicação que também aconselhámos, a “Camino Ninja”. Isto, em conjunto com a informação disponibilizada no site oficial dos caminhos de Santiago “caminodesantiago.gal”. Dentro do possível, tentámos sempre obter informações em sites oficiais e ler vários comentários, até porque percebemos que muitos dos comentários existentes, tem a ver sobretudo com as expetativas das pessoas. A título de exemplo, nem todos as pessoas têm o cuidado de fazer pouco barulho de manhã, pelo que avaliar uma experiência como negativa porque um grupo de peregrinos barulhentos não deixou alguém dormir de manhã… ou então alguém que está “habituado” a ter um quarto só para si, de repente está num local onde dormem mais umas quantas pessoas e muitas delas ressonam e outras coisas… Por isso mesmo, sugerimos que leiam os vários comentários, pesquisem pelo mesmo espaço em diferentes plataformas e claro, ir sempre mentalizado de que, pelo menos na nossa opinião, um dos principais desafios do caminho, é estarmos minimamente conformáveis com o desconfortável. A nível de preços, o valor mínimo rondava os 15€ por pessoa e o custo de usar a máquina de lavar e secar, entre os 3€ e os 4 € cada. Geralmente, os albergues privados disponibilizam toalha e lençóis e os públicos apenas lenções descartáveis, mas convém sempre confirmar previamente caso não esteja claro na informação do albergue.
Todos os albergues de peregrinos, regra geral, têm horas de entrada e saída a ser respeitados, assim como horas estipulados em que as luzes são desligadas à noite. Também é muito comum as pessoas levantarem-se cedo, pois o ideal é percorrer pela “fresquinha, ao invés de apanhar as horas em que o sol está mais forte. Falamos em sol, mas não convém esquecer de que a chuva pode sempre aparecer, aliás, foi o que nos aconteceu de ambas as vezes. E como caminhar alimenta a alma, mas não o estômago, convém falar disto. Aqui a chave continua a ser pesquisa. Alguns albergues têm eletrodomésticos e local onde podem preparar refeições, assim como loiça para usar, ao contrário dos públicos. Embora muitos tenham eletrodomésticos, não disponibilizam loiça, daí que seja sempre importante verificar se na localidade existe uma mercearia que seja ou então um restaurante como alternativa. Em Dumbría, por exemplo, como acabámos por ir fora da época alta, apenas existiam abertos um restaurante e um pequeno café com uma pequena mercearia. Nos restaurantes, sobretudo nos trajetos mais percorridos, quase todos dispõem de um menu de peregrino, supostamente mais em conta. É sempre uma alternativa, mas preparem-se para comer batatas fritas durante os dias todos (pelo menos assim foi quando dizemos o caminho central). Desta vez, nos fomos tentando fazer no máximo só uma refeição por dia no restaurante. De manhã parávamos num café, ou na cafetaria do albergue (os que tinham) para tomar um café bem quentinho e assim que chegávamos ao fim de uma etapa, íamos comprar alguma fruta e pão para comer no dia seguinte durante a caminhada. Mal os restaurantes abriam ao fim da tarde, íamos jantar. Mas aí está, é daquelas situações que cada um terá sempre de ver a melhor forma para si, nós apenas queremos mostrar que há sempre várias formas e que às vezes, só experimentando.
Regra geral, fizemos pelo menos uma refeição por dia no restaurante e o pequeno almoço também era sempre ou no próprio albergue ou num café nas localidades. Em média, gastámos cerca de 33€ por dia e por pessoa : albergue, alimentação, lavandaria e algumas pequenas recordações.
Deixamos aqui algumas ligações que consideramos úteis, seja sobre informação oficial sobre os caminhos, como para aplicações que podem servir seja para a pesquisa, seja para se irem orientando durante o caminho. Não se esqueçam, há várias fontes onde podem consultar informação, nós apenas deixamos aqui os que usamos mais.
Como às vezes dá jeito, aqui deixámos os ficheiros dos mapas das etapas, para seguirem ou somente para usar em caso de... necessidade :) Bem, e depois deste texto um pouco longo para os tempos que correm, mas que ainda assim havia tanto mais para escrever, fica aqui o nosso documentário da viagem. Desfrutem, que nós desfrutamos bastante. "Buen camino"
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